quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Rebobinamento digital

por Ieda de Oliveira

Esta semana, resolvi substituir o bloquinho de anotações pelo meu velho gravador. Em vez de ficar escrevendo, registrar as idéias para as minhas crônicas no tape. Na hora do almoço saí à cata de uma fita Cassette (ou K7, lembram?). Uma colega do trabalho foi logo me avisando: 'Você não vai encontrar...' Como não? Não acredito que as fitas Cassette já estejam todas abolidas, gente! Apesar de toda essa tecnologia nova, as fitas devem estar sendo vendidas em algum lugar. E os repórteres gravam com o quê, então?

A primeira loja, um laboratório fotográfico. A vendedora não entendeu a pergunta. 'É uma fita Cassette, aquela que a gente coloca num gravador e...' Eu estava praticamente fazendo mímicas e ela continuou sorrindo, ou melhor, continuou não entendendo do que se tratava exatamente.
Comecei a ficar preocupada. Não pelo fato de não encontrar mais a bendita fita, mas por começar a me sentir velha e ultrapassada. Já, meu Deus!? A situação lembrou os relatos do meu pai sobre gramofone, transistor de rádio, válvulas de televisão etc. E agora, eu aqui, passando pela mesma sensação que o coitado devia passar quando eu o olhava como se estivesse relatando sobre a vida em outro planeta; ou mesmo a minha mãe quando dizia que qualquer aparelho com mais de dois botões, nem precisava comprar para ela.

A segunda loja, uma mega store. Na minha opinião, ou esperança, como queira, ali eu encontraria, ao menos, algumas.
Um vendedor chamou o outro para ajudar. Precisava mesmo? Uma convenção começou a se formar:

- A senhora quer dizer gravadores com microfita, certo? - disse o segundo vendedor.

- Não, microfita é para secretária-eletrônica. Eu quero aquelas fitas maiores, tamanho padrão para gravador, gravador, sabem...?
– comecei de novo com as mímicas. - Não é fita pra vídeo, não, hein...

- Ah... então é o gravador digital.

- Gravador digital? Digital? Mas gravador digital não é aquele gravador de DVD, não? -
Será que se eu falasse do walkman, eles atinariam pra coisa ou ririam na minha cara?

- Não, este usa USB PDR180 ou RR-US450, depende do mod...
– informava o primeiro vendedor.

E pronto. O pânico se instalou de vez. Não entendi ou ouvi mais nada. Agora era real: eu estava vivendo em um mundo paralelo ao meu. Eu me senti um personagem de Além da Imaginação! Falava de algo que ninguém sabia do que se tratava!


E isso não é de agora. Na festa de vinte anos de formatura, em 2006, a filha de um ex-colega de faculdade ficou impressionada por não existir celular na nossa época: 'Como os caras faziam para avisar às namoradas que estavam chegando e que era pra descer?' Humm... Sabe que não me lembro mais!
É... só sei dizer que de lá para cá comecei a ficar receosa. Para mim, ainda era cedo para preocupações com a idade; eu recém-chegada à casa dos 40. Mas agora a coisa estava ficando, digamos, mais pesada para o meu lado.

Mas é fato. Adaptação é a palavra de ordem. Como no exemplo clássico daquele torneiro-mecânico que se preocupava em perder o emprego para um robô, que certamente tomaria o seu lugar porque tinha tecnologia capaz de desenvolver as tarefas diárias de maneira bem mais rápida que o ser humano. Foi aí que alguém sugeriu ao operário que aprendesse a manejar o robô para se manter no mercado. Nada mais acertado a ser feito: se adaptar às novas metodologias de trabalho. No meu caso, às novas mídias de comunicação.

O avanço da tecnologia ganha cada vez mais espaço na vida da gente. Mesmo que queiramos fugir ou bater o pé 'que nem o celular' vai usar, a tecnologia ainda vai te 'pegar'. Ainda outro dia mesmo, um amigo foi ao Ministério da Fazenda e para ser atendido precisava de senha. 'Claro, aonde pego?' 'Pela internet, no site da Fazenda.' É isso: senha pelo site. E quem não tem acesso a computador...

Resistente (puxou ao pai), ontem eu me peguei pesquisando no Google por modelos de gravadores... digitais. Adaptação, ainda que tardia...


PS.: Depois de ir a mais três lugares naquele dia, encontrei as fitas K7 em uma lojinha pertinho do trabalho. Se alguém aí quiser o endereço...

E apenas por curiosidade arqueológica:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cassete
http://www.tapedeck.org/

5 comentários:

Unknown disse...

Você também encontra naquelas lojinhas francesas da Uruguaiana: Lê Camelô
:o)

Marcelo disse...

Realmente eu não sei mais como fazia antes para conhecer pessoas sem meu computador..rs

Unknown disse...

Iedinha,se te serve de consolo,na escola onde trabalho o laboratório fonético funciona com fitas cassete....o duro é ter que ensinar os adolescentes como é que usa,hahahahah!"Rebobinar" é uma palavra inexistente no vocabulário deles!

Bjos!

Anônimo disse...

Olá Ieda
Eu fui apresentado ao seu blog pelo Humberto. Este artigo é muito interessante e atual. Vou enviar por email dois artigos que publiquei sobre esta temática no jornal eletrônico Montblaat.
Abraços
Teócrito

Ieda Oliveira disse...

Oi, Teócrito

Fico no aguardo dos artigos. Fiquei curiosa!

Abraços, Ieda

PS: E volte sempre ao nosso blog. Se quiser publicar algo, será bem-vindo.