sábado, 23 de agosto de 2008

Brasilidade

por Ieda de Oliveira

“(...)
Somos nós que fazemos a vida

Como der ou puder ou quiser
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita
Viver, e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz
Ah meu Deus eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
(a vida) É bonita, é bonita e é bonita.” (*)

Viver e não ter a vergonha de ser feliz (Gonzaguinha)
(*) grifo meu


Domingo acordei totalmente abrasileirada. Sintonizei na MPB FM e, sob o som de Vinícius, Simonal, Novos Baianos, Jobim, Elis, Jackson do Pandeiro entre outros não menos sensacionais, cantei e cantei e cantei. E não foi por causa do clima de medalhas, lutas, sangue e suor dos nossos atletas em Beijin, não (que, aliás, merecem aqui todo o meu carinho e palmas pelo empenho nestas Olimpíadas), mas devido à brasilidade que me abateu nesses últimos tempos.

Pois então, terminei de ler dois livros de Machado de Assis (confesso, ainda não tinha lido Dom Casmurro. Mas, mais do que nunca precisava saber, afinal, se Capitu traiu ou não traiu Bentinho. Querem a minha opinião? Depois eu digo em outra crônica, ok?) e emendei nos melhores contos de Rubem Braga. Sobrou um tempinho e li sobre cerca de 90 escritores estrangeiros, mas me impressionei e corri para ver a exposição da Clarice Lispector (a escritora ucraniana mais brasileira que o Brasil já teve) lá no CCBB, no Centro do Rio. Aproveitei e adquiri dois livros dela no mesmo dia. Mas hoje, segunda-feira, não resisti e entrei na Livraria da Travessa e comprei Doidas e Santas da Martha Medeiros, lançado semana passada.

E assim a pilha de livros vai aumentando. É preciso ser justa e manter a ‘ordem de chegada’. Mas já estou mal vista por eles (os livros). Se tivessem vida própria, já daria para ouvir as reclamações. “Lá vai ela pegar a Clarice... eu estou na fila há dois meses!” “Não, reclama, não, Saramago. E eu que estou aqui na fila desde 2006!” “Ah, tá, Luiz Fernando, quem me garante que ela não irá ler primeiro a Martha que comprou hoje”, observa Clarice. Ai, que vergonha...

Enquanto discorro sobre arte, cultura e a ‘grande descoberta’ de ser brasileira, reflito também sobre algo importante e de onde origina todo esse orgulho de ser brasileiro ou mesmo o prazer de viver, saber viver: os princípios e valores passados pelos nossos pais e pelos pais dos nossos pais e pelos pais destes. Penso e torço pelos homens e mulheres que diariamente acrescentam verdadeiros valores através de valiosas atitudes – pequenas ou grandes - e que deixam como herança – mesmo que ofuscada pelos valores vendidos por outras culturas – aos filhos, aos seus futuros homens.

A arte, a cultura, o trabalho, a religião, a dignidade sobrevivem através de poucos que estão aí... lutando para ver o mundo melhor. E o mundo melhor, não é aquele dia quando o sol está bonito lá fora e vai dar praia ou quando o Brasil ganha uma Copa do Mundo (tão patético exemplo), não. O mundo melhor é o seu! É aquele que você pode oferecer ao outro. É o mundo que você oferece a sua família, que a família oferece a sua comunidade, que a comunidade oferece ao seu bairro, que a oferece a sua cidade, que oferece ao seu estado, que oferece ao seu país, enfim, ao resto do mundo!

Portanto, o meu mundo melhor hoje é fazer uma boa leitura, indicar uma boa exposição que resgate mundos melhores do passado, ouvir um bom CD de chorinho (gravado na Lapa, hein!), dar uma ou duas voltas na Lagoa Rodrigo de Freitas, ou mesmo naquela pracinha simples perto de casa e comer um pastel que só lá se faz, ou escrever aqui o quanto eu desejo que o mundo seja sempre o melhor para você!

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