sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Desculpa qualquer coisa!

por Charles Nascimento

Na semana passada, Cafezinho com Letras recebeu a visita de José Sérgio Rocha, que ainda fez a gentileza de publicar no blog uma mensagem. Para quem ainda não teve o prazer de conhecê-lo, trata-se de um jornalista jurássico (às vésperas de celebrar o sexagenário) que, entre idas e vindas, trabalhou nos principais veículos de comunicação do país - Jornal do Brasil, O Globo e Diário de Notícias. Foi correspondente nas agências EFE e Latin Reutters, autor da biografia de Roberto Silveira (o pai) e outros tantos livros como gost writer.

O redator-que-vos-fala teve a honra de trabalhar com o ‘mais ilustre morador de Niterói’ por quase três anos. Na época, ele havia sido convidado para coordenar uma equipe de seis redatores. Sua importância para o setor pode ser resumida por meio de uma metáfora futebolística, ultimamente muito em voga: “o cara conhece os atalhos do campo entre um simples fato e a notícia”. E seus textos são elaborados com rara maestria.

Logo no primeiro encontro, Zé fez uma advertência ao redator-que-vos-fala: “Esqueça tudo que você aprendeu na faculdade. Vou te ensinar a escrever”. Desistiu antes de cumprir a promessa e saiu à cata de novos desafios – mais fáceis, evidentemente. Porém, o fracasso na tentativa de alfabetizar este redator não traz nenhuma mancha ao seu currículo. E nem causou alguma mágoa. Ao menos não, por parte deste redator. Absolutamente!

Com o tempo, o redator-que-vos-fala aprendeu que, via de regra, as grandes empresas comunicação têm em suas staffs quatro perfis diferenciados de jornalistas: os que apuram bem e escrevem mal; outros exatamente ao oposto, que apuram mal, mas escrevem razoavelmente bem. (Nota: Quando orientados corretamente pela chefia imediata, ambos se completam e acabam por desenvolver uma rotina de trabalho aceitável. Passam a vida transitando pelas redações até que encontram um par perfeito, descobrem que nasceram um para o outro e se acomodam até o fim do ciclo).

Do terceiro time de jornalistas comungam os camaradas que costumam ser apelidados de ‘grande figura humana’. Em geral, não sabem apurar, muito menos escrever. Mas estão sempre dispostos a pegar um cafezinho, verificar a grafia correta de um determinado nome estrangeiro, fazer uma pesquisa um pouco mais chata na Internet. Após a labuta, também estão sempre a postos para o tradicional choppinho de fim de noite. Em geral, têm vida longa ...

O velho Zé faz parte do seletíssimo quarto grupo, que apura as notícias e as transfere para o papel com a mesma maestria. A esmagadora maioria dos que têm perfil com tais características está ocupando função no primeiríssimo escalão da imprensa nacional. Zé é uma das raras exceções. Continua ‘pobre, pobre, pobre/De marré de si’, a exemplo deste redator (cujo talento passa ao largo). Mas aí, no caso dele, vale um adendo: o pavio do cara tem menos de um milímetro, é curtíssimo! E só isso explica sua ausência no rol dos novos emergentes ‘enricados’.

Esse blá-blá-blá todo veio à mente do redator-que-vos-fala porque em sua mensagem o Zé Sérgio solicitou histórias sobre pobreza, especialidade da casa – não as narrativas, mas a pobreza em si. Lembrei logo dele, não sei o porquê. E já que vocês perderam tempo suficiente para chegar até aqui, não custa (quase) nada ler os próximos quatro parágrafos.

Na justa hora em que os Correios decretaram o fim de uma paralisação nacional, a Caixa Econômica Federal anunciava o pagamento do terceiro maior prêmio da história, uma bagatela superior a R$ 50 milhões. Também graças ao fim da greve, os carnês de crediário, taxas, impostos e cartas de cobranças estão chegando à residência do redator-que-vos-fala às pencas – antes, ao menos, era feita em doses homeopáticas.

Diante da papelada a pagar, as cifras distribuídas pela Caixa mexem com o imaginário popular de qualquer cidadão: carrões, viagens, mansões, mulheres bonitas, ócio remunerado e por aí vai...

Pois o redator-que-vos-fala é bem mais humilde. Fosse ele o felizardo a receber a mecharia, logo no dia seguinte compraria apenas uma TV 14 polegadas – não precisava nem ser de tela plana.

Explico: a compra seria feita em 48 parcelas numa grande rede de departamentos. O redator-que-vos-fala pagaria a primeira prestação no ato e jogaria o carnê na lata do lixo, para ter a mais absoluta certeza que não o encontraria nunca mais. Pronto! Daí a dois ou três meses o nome do mais novo devedor-milionário do país seria inserido no temido Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Como o redator-que-vos-fala nunca mais ia sequer cogitar a idéia de comprar nada financiado, o nome sujo não lhe traria grandes inconvenientes. De quebra, iria manter a quilômetros de distância aquela pobralhada oportunista que passa a vida precisando de fiador ou do seu nome emprestado para ‘tirar’ um produto aqui ou ali

Pobre não compra nada, ‘tira’. Mas esse também é tema de outro texto. Obrigado pela visita galera! E desculpa qualquer coisa!

Um comentário:

Anônimo disse...

Mandei um comentário enorme e não entrou. Quem está cuidando da tecnologia desse blog? Aposto que é o Charles. Se for, tá explicado.