domingo, 20 de junho de 2010

Até breve Saramago...


Não poderia deixar passar uma pequena nota sobre o falecimento do escritor José Saramago.

O vício da literatura me apresentou Saramago pela primeira vez ao ganhar o livro Ensaio sobre a Cegueira, que resisti a ler por conta dos longos parágrafos. Longos não, imensos.

O problema está no meu jeito de ler. Gosto de saborear cada trecho, como quem mastiga infinitamente uma fruta antes de engolir e Saramago não oferece uma chance para que a minha mente navegue para além do livro, em reflexões sonhadoras, antes de continuar a leitura.

Ele me exigia ser uma leitora mais ansiosa, “engolindo” o livro de uma mordida só.

Por essa mania de interromper a leitura para pensar em todas as frases que mexiam com a minha forma de ver a vida, com minha realidade ou conjecturando qual realidade ele queria me mostrar, deixei Ensaio sobre a Cegueira de lado várias vezes.

Só que sempre o buscava novamente ainda mais curiosa, mesmo sendo necessário retornar ao início, porque sabia que a mente não havia acompanhado os olhos nas primeiras leituras.

Tive que aprender a ler Saramago.

Ele queria a atenção de quem está narrando a experiência mais importante de sua vida e conseguiu me envolver durante toda a maravilhosa noite em que o “devorei” até a última página.

Ensaio sobre a Cegueira é uma ode à força, capacidade de renúncia e amor incondicional que só nós mulheres sabemos possuir.

Não sei quantas mulheres Saramago amou, mas fico me perguntando com quantos sentimentos femininos ele conseguiu se identificar para poder narrar tão bem o comportamento da protagonista deste livro.

Poucos homens são capazes desta empatia. Poucos escritores serão como Saramago.

Não digo adeus. Digo até breve.
Vou reler Saramago e me reencontrar tão bela e sensível quanto ele pôde enxergar.

domingo, 13 de junho de 2010

Dia dos Namorados e Copa do Mundo

Imagine vestir aquela lingerie caríssima, gelar uma garrafa de vinho na temperatura certa,
montar todo o cenário romântico com direito às melhores taças, jantarzinho à luz de velas e
pétalas de rosas espalhadas pelo chão, esperar ele chegar ansiosa, abrir a porta após uma
retocadinha no batom e...
em vez de receber um beijo avassalador e apaixonado, dar de cara com cinco homens invadindo sua sala acompanhados de três caixas de cervejas. E, antes que consiga gritar, percebe que conhece um deles - o que tenta equilibrar uma montanha
de batatas chips
enquanto lhe dá um “selinho” distraído, dizendo: “oi amor, trouxe a galera pra ver o jogo da Inglaterra x EUA. Tem espaço no frezzer?”

Nessa hora, não adianta reclamar, ameaçar, nem desligar o disjuntor pra cortar a energia elétrica. As duas primeiras alternativas eles não ouvem -porque estão ocupados com a TV, o som e a corneta estridente que alternam entre eles - e a última só irá transferir a “galera” para a casa de outro amigo ou para o barzinho da esquina mais próxima.

Sei que esta rixa de namoro x futebol já deu mais comentário que a disputa entre Brasil x Argentina, mas a verdade é que muitas mulheres continuam sem entender essa paixão exagerada pelo esporte mais amado do Brasil.

Vejam que usei duas palavras importantes: paixão e amor.

Quando você pergunta a alguém a diferença entre a paixão e o amor, a resposta mais comum é que a paixão tem um prazo determinado para durar, mas o amor é eterno. Muitos dirão que, em relacionamentos entre casais, o amor também chega ao fim ou não teríamos tantos divórcios.
Eu acredito, porém, que o amor, quando verdadeiro, se transforma com o passar dos anos em amizade.
Podemos observar isso muito bem nos casais que completam Bodas de Prata, Ouro e atualmente alguns chegam as de Diamante.
Nos casamentos que duram tanto tempo, percebemos que a cumplicidade atinge um grau mais intenso e as formas de prazer se ampliam além do sexo, pela comunhão e entendimento sem palavras das manias, gostos e desejos um do outro.
Mas é preciso tempo para chegar a este ponto. E que se ame “mesmo que” o outro seja tão diferente de você, e nunca “apesar de que”.
“Apesar de que” não é amor, é acomodação.

Tá bem. Esse assunto combina mesmo com o clima de Dia dos Namorados, mas e o futebol?

Bem. Se concordarmos que paixão é um sentimento de curta duração, então o brasileiro não é só apaixonado pelo futebol; ele ama o futebol.
E, sem nenhum constrangimento, declara este amor para quem quiser ouvir.

Enquanto que, nos relacionamentos atuais, se tornou “brega” amar e demonstrar amor - ou seja, é chamado de extrema pieguice usar o adesivo “eu amo minha esposa” no automóvel, escrever poesias, comprar flores, tirar fotos formando um pequeno coração com as mãos, ou chorar comovido ao ouvir aquela canção que marcou seu primeiro encontro - no futebol tudo é permitido.

O amante deste esporte, que tem seu clímax na Copa do Mundo, expressa este amor de todas as formas possíveis e imagináveis: usa o adesivos com o brasão amado não só no seu automóvel, como também estampado na roupa, bonés e até mesmo na pele; escreve canções e hinos de juras eternas de amor incondicional; compra qualquer quinquilharia que leve o nome do seu time (ah! os horríveis canecos ocupando o armário...); colecionam fotos dos jogadores, do treinador, do massagista e do mascote do time; e ainda são capazes de colar, com fita durex (sic), na parede da sala, o pôster mais recente de seu amado time, estragando toda a decoração.

Este amor pelo seu time e pela Seleção Brasileira, nestes dias que de frenesi futebolesco, mantém o casamento de mais longa duração de que já se ouviu falar: do homem com o futebol. Este relacionamento contém tanta intensidade que se estende por gerações. E não tem nada de “apesar de”. O time é amado “mesmo que” venha a perder aquele último pênalti da decisão do campeonato.

Portanto, não tem lingerie que desvie a atenção do homem que ama do seu esporte preferido.
O caso é grave quando se trata de futebol e ainda mais quando é o Brasil rumo ao Hexa.

Mesmo assim, se acha que ainda deve tentar, quem sabe uma peça que tenha as cores do time dele. Ou então, deixá-lo se emocionar ao lhe ver completamente vestida de verde e amarelo.

Feliz Dia dos Namorados!
Feliz torcida rumo ao Hexa!



PS : Este ano, eu e este tricolor bonitão da foto completaremos 25 anos de casados. As Bodas de Prata ocorrem em julho. Por coincidência, logo depois do final da Copa do Mundo e pouco antes de continuar o Campeonato Brasileiro de Futebol.

terça-feira, 25 de maio de 2010

De mãe para mãe (uma resposta para Anna)


Por Ana Maria Chagas

Tive que refletir muito para responder a uma das leitoras, porque eu entendo muito bem os dois lados da história que ela conta em seu mail.
Diz respeito ao texto “Abram seus horizontes”
(http://cafezinhocomletras.blogspot.com/2010/05/abram-seus-horizontes.html) que foquei na vida profissional, mas para esta leitora, significou um recado para a mãe que está passando pela “Síndrome do Ninho Vazio”.
Mulher é bicho complicado e amadurecer não é nada fácil.
Não estou nem falando de rugas, cabelos brancos ou menopausa. Estou falando sobre a época das perdas, que todas nós alcançamos. Somos criadas por uma sociedade muito castradora onde mulher sempre foi sinônimo de maternidade.
Não sei se algo mudou nesta nova geração, mas sempre nos ensinaram que mulher é mãe em tempo integral: mãe dos filhos, das noras/genros, do marido e dos próprios pais quando envelhecem. Isso vira até uma ação semi-inconsciente, porque não queremos falhar no papel mais importante da mulher para a sociedade.
As próprias mulheres do círculo familiar, as amigas mais próximas ou colegas de trabalho vivem cobrando umas das outras: se a casa está em ordem, se os filhos passaram de ano, se o marido está bem alimentado e vestido, se sabe economizar nas compras, se sabemos cuidar de doentes, se telefonamos constantemente para nossos pais idosos, se permanecemos lindas, magras e maravilhosamente jovens e de bom humor, etc.
Temos padrões a seguir, desenhados pela TV, por revistas femininas, por tantos mais expectadores imaginários.
Sem nem dar conta disso, acabamos assumindo essa postura de dedicação e amor incondicional com a família que muitas vezes nos faz esquecer quem somos e do que gostamos para ceder aos desejos dos que amamos.
Tenta fazer o contrário e vem a culpa! Ai... a culpa que nos infligimos... Antes mesmo que os outros nos censurem, nós somos nossas maiores acusadoras.
Castramos nossos desejos e inserimos culpa quando cuidamos só de nós mesmas.
Vivemos o que é melhor para o outro. Vivemos até mesmo a vida do outro.
Então, com o tempo, vem chegando a maturidade e com ela a estação das perdas:
- Nossos pais, envelhecidos, se vão...
- Vai-se o marido, seja por morte ou separação (que para muitas é a morte!).
- E por fim, os filhos, que crescem, se casam, mudam de cidade por causa da profissão, ou simplesmente mudam para morar sozinhos.
E aí? O que a gente faz da nossa vida se ninguém mais precisa de nós? De quem vamos cuidar?
Aí que está a questão do quanto podemos atrapalhar a vida dos filhos na época em que eles estão prontos para seguir suas próprias vidas. Pode parecer insensatez da minha parte, mas tenho para mim que as mães que grudam nos filhos impedindo seu crescimento e liberdade de errar e seguirem seus próprios caminhos, camuflam como dedicação materna o que muitas vezes não passa de puro e simples egoísmo.
Pergunto agora para as mães de plantão: quando foi a última vez que pararam para cuidar de vocês mesmas?
Durante muito tempo eu vivia me perguntando qual o limite entre ser egoísta e estar cuidando da auto-estima. No que trata sobre maternidade, cheguei à conclusão que durante toda a minha vida consegui (só Deus sabe como) equilibrar os meus desejos e ambições com os dos meus familiares, usando duas coisas: bom senso e muito amor. Se for pesar na balança, sempre os coloquei em primeiro lugar, mas eu sempre abri espaço na agenda de um tempo só pra mim. Nem que tivesse que ficar sem dormir para isso...
Ou seja, uma equilibradora de pratos. É assim que se concilia maternidade com ser simplesmente mulher.
Parece óbvio, mas muita gente desconhece que, nos relacionamentos, somos egoístas quando decidimos fazer algo só para nós em detrimento do que os outros precisam como, por exemplo, gastar horrores com supérfluos enquanto seus filhos precisam de dentista ou uma boa escola, etc. Ou deixar sempre em segundo plano as necessidades dos que nos amam. Ou ainda, de modo mais grave, e que vem acontecendo muito ultimamente nos lares, deixar de ouvir os problemas dos filhos para assistir Big Brother (sic).
Que me perdoem os amantes dos reality shows, mas será que os problemas imbecis de 5 ou 6 “atores”, criados por eles mesmos, muitas vezes inventados para prender a atenção dos teleguiados, são mais importantes do que ouvir uma filha contar sobre sua primeira briga com o namorado ou consolar o choro de um bebê sonolento?
Mas voltando ao assunto que originou este texto, a única resposta que posso dar para a jovem leitora é que é possível ensinar uma mulher a ser mãe, mas fazer uma mãe compreender que sua missão terminou e que ela já pode dedicar mais tempo a si mesma, aí... é outra história!
Só posso deixar aqui, alguns questionamentos para reflexão:
- Onde foi parar a mulher que sua mãe foi?
- Porque ela acha que não será mais esta mulher? O que a impede?
- Quando ela reclamava que nunca tinha tempo para si mesma, o que ela gostaria de ter feito se tivesse tempo?
- Por que não fazer o que gostaria de ter feito, agora que ela tem tempo?
E boa sorte pra ela. Para todas nós.

sábado, 15 de maio de 2010

Abram seus horizontes...


Por Ana Maria Chagas

Deve ser por causa da idade ou por começar a assistir as aventuras do filho nos primeiros vôos rumo a independência financeira, mas comecei a olhar mais para quem eu sou e como tem sido a minha vida profissional até agora e não gostei nada do que vi.
Então decidi que devia fazer alguma coisa e quis mudar.
Procurar algo com o qual tenha realmente afinidade e que goste de fazer.
Senti saudade da época em que atuava na área de Recursos Humanos e decidi voltar.
Atualizei o currículo e pensei em começar a busca pela Internet.

Depois de muito navegar pelos mares das agências de emprego, sites de relaciomento, contatos diversos, sites de empregos,etc, cheguei a uma conclusão, não de todo triste porque estou empregada mas que seria alarmante se não estivesse: não estou fora do mercado só por causa da idade; estou fora do mercado por estar totalm
ente despreparada.

Não sei se existem casos parecidos como o meu por aí, mas a verdade é que me acomodei por causa da segurança (aparente talvez) e dos benefícios oferecidos.
Além de me acomodar, acho que andei meio míope porque durante estes anos dentro da mesma empresa, pensando que realmente estava cooperando, investi muito tempo em projetos internos que não foram adiante por questões políticas ou pelos quais não ganhei nenhum mérito e, conseqüentemente, não me trouxeram nenhum retorno.

Posso até entender hoje a geração Y, porque tivesse eu me preocupado mais com a carreira, talvez pudesse hoje ter um currículo muito mais atraente.
Cumprindo fielmente as metas traçadas pela organização, dirigi meu comportamento para obedecer todas as regras, trabalhar mais do o esperado, abrir mão de interesses pessoais, para no final das contas receber aumentos e bônus muitas vezes insignificantes.
Bônus este cujo medidor, na maioria das vezes, é a quantidade de metas que você deixou de cumprir, porque o orçamento é muito baixo e não dá pra premiar todo mundo e assim fica fácil saber quem não irá ganhar.
Neste caso não importam os fatores impeditivos - internos ou externos - para que se cumprisse as metas.
Enfim, você é avaliado pelo planejamento orçamentário.

Lembro de uma vez, logo que conclui a universidade, um funcionário antigo me disse: "Minha filha, não fica aqui não...abra seus horizontes".
Ouvi paciente, mas no fundo pensei: "Nossa, mas de jeito nenhum eu vou sair. Uma empresa grande, com tantos benefícios e eu tenho tanto a contribuir aqui...."
Pois foi uma grande ilusão que a gente se deixa levar até porque existe a preocupação financeira em relação à família.
Os filhos, principalmente, são os que sempre nos fazem manter os pés bem presos ao chão.
Mas o tempo passa...
Até que chega um dia que você abre os olhos, ou começa a usar óculos multifocais, e começa a questionar o trabalho.
Vê o quanto contribuiu e continua contribuindo e cobra um retorno que nunca vem.
E por passar a cobrar, passamos a desmotivados, cansativos, etc.
Já não recorrem mais à suas idéias, não porque são antiquadas, mas porque você vai perguntar o que ganhará por elas.
Então, todos os olhos se voltam para os jovens recém-contratados, que chegam altamente confiantes, cheios de idéias, sorridentes e prontos para agradar.
Ao meu redor estão muitos.
Têm muito a contribuir com seus diplomas de pós graduação e mestrado e tempo de sobra para ficar até muito depois do horário de trabalho. Nunca questionam nada porque sabem que primeiro é preciso mostrar todo seu potencial.

Bem...
Só posso dizer que, hoje, quem bate nos ombros desses meninos(as) e diz: “Filhos(as)...abram seus horizontes...”, sou eu.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Minha Linha de Sombra

Por Ana Maria Chagas

Pensei em começar a escrever sobre saudade... mas prefiro falar sobre a menopausa.

Bem, filhote viajou (ai, que saudade) e ontem senti a casa tão vazia que fui buscar consolo em um dos meus amigos mais íntimos e fiéis: um livro.

E convidei o inglês Joseph Conrad para um papinho, acompanhado de uma taça de vinho, para que fosse me conquistando aos poucos... Mas ele me ganhou já no primeiro capítulo do romance “A Linha de Sombra”, ao expressar tão bem aquela fase maravilhosa da existência humana quando somos (ou achamos que somos) absolutamente donos de nós mesmos e de nosso destino:

"É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções.Fecha-se atrás de si o pequeno portão da mera meninice – e adentra-se um jardim encantado. Até as sombras aqui resplandecem cheias de promessas. Cada curva da vereda tem suas seduções. E não porque se trate de um país desconhecido. Sabe-se muito bem que a humanidade toda já trilhou aquela senda. É o encanto da experiência universal, da qual se espera extrair uma sensação incomum ou pessoal – um algo que seja só nosso."

E não é exatamente assim?
Observem seus filhos. Olhem bem quantos traços, comportamentos, qualidades e defeitos eles adquiriram de você, somados aos que adquiriram na sociedade, mais os que eles escolheram para si mesmos, prontos para ir em busca de sua experiência universal!
Não é maravilhoso? Você se lembra desse “jardim encantado”?

E o autor complementa, que "aceitando a boa ou a má sorte, vai-se adiante. E o tempo também, caminha – até que se percebe uma linha de sombra avisando-nos que a região da mocidade também deverá ser deixada para trás."

A menopausa também é uma experiência universal muito pessoal. Cada uma das amigas com quem converso sente diferente, age diferente, tem expectativas diferentes.E eu? Como venho me sentindo de verdade?

Fiquei pensando – aliás, penso demais, já me disse um amigo (um humano, não um livro) – que estas mudanças que vêm acontecendo comigo, físicas e emocionais, que os médicos vêm sinalizando como uma pré-menopausa, significam que cheguei na “linha de sombra”, avisando que o tempo caminhou e terei que entrar mais uma vez em um país desconhecido.
E daí em diante, como será? Este novo jardim será também tão encantador? Continuará cheio de promessas? Terá suas seduções?

Até agora – exceto comer, beber e ir ao banheiro – tudo o mais foi opcional.
Uma imensa aventura guiada pelas escolhas constantes que tive que fazer: estudar, o que estudar; casar, com quem casar; ter filhos; trabalhar; voltar a estudar; rir ou chorar; amar ou desprezar; lutar ou desistir.As opções eram tantas! A “boa ou má sorte” era encarada como desafios, e tantos foram superados sem nenhum problema. Não havia tempo para lembrar o passado e nem interessava tanto o futuro. A vida era, literalmente, um presente. Desfrutava da ânsia de viver tudo ao mesmo tempo e com toda a intensidade possível. E não sentia nenhum medo do que viria a seguir.

Daí chega a maturidade e me pergunto: e se houvesse optado por outros caminhos?As vezes não perdoo as escolhas que julgo terem sido erradas e que me trouxeram dor, sofrimento ou mágoa, esquecendo que estas experiências vividas foram tão importantes para me conhecer melhor.

Mas será que realmente sei quem sou?O Passado bateu na porta e está tentando retornar devagar, ocupar um espaço muito grande e tirar toda a atenção do Futuro com quem voltei a flertar e tenho planos de transformar num ótimo relacionamento.
Não devo deixar o Passado ocupar meu quarto de hóspedes. Para não magoá-lo, convidei-o gentilmente a viver no quartinho dos fundos. Lá onde guardamos objetos que recordam bons momentos, mas não combinam mais com os novos sentimentos e expectativas espalhados pela casa e muito menos irão combinar com os que estão por vir.

O Futuro está se instalando aos poucos, como aquele hóspede que vai se habituando à rotina da casa, mas também gostaria de cooperar fazendo algumas boas mudanças. Devo aproveitar as novas opções que ele traz na bagagem e estar pronta para mais uma emocionante viagem.

Parodiando Joseph Conrad:

"É um privilégio do começo da maturidade viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções. Fecha-se atrás de si o pequeno portão da mera juventude – e adentra-se um jardim encantado. Até as sombras aqui resplandecem cheias de promessas. Cada curva da vereda tem suas seduções. E não porque se trate de um país desconhecido. Sabe-se muito bem que a humanidade toda já trilhou aquela senda. É o encanto da experiência universal, da qual se espera extrair uma sensação incomum ou pessoal – um algo que seja só nosso."