sábado, 9 de agosto de 2008

Dia das meias (ou melhor, dos Pais)

por Ieda de Oliveira

Eu me lembro das comemorações aos Dias dos Pais na época de menina, ainda na escola pública, época na qual os nossos pais eram sempre surpreendidos com um presente inusitado: um par de meias! Ehhh! Invariavelmente, a lembrancinha era grudada em alguma figura, cujo formato lembrasse uma bola, gravata ou sapato recortados em cartolina. Não havia outra coisa para dar de presente aos pais: eram meias, meias ou... meias! Todo ano! Mas justiça seja feita, ao menos as cores variavam. Ou eram beges, brancas (as minhas preferidas), pretas, listradas... As meias procriavam. Acho até que a minha mãe estocava pares e mais pares de meias. Pois, no ano seguinte, com toda certeza, a escola pediria às mamães para levarem um (novo) par para que o pimpolho pudesse 'surpreender' o papai no segundo domingo de agosto. Pior talvez fosse para os pais de filhos que estavam em creches e que recebiam alguma coisa não identificada feito à mão – chique, né! – e pintado de modo a provocar inveja a qualquer artista plástico vanguardista.
E no grande dia, então, cabia aos queridos homenageados exibirem o seu melhor sorriso e deixarem aflorar todo o talento de ator para externar o ar de surpresa ao ser agraciado com (mais) um par de meias do filhão – no caso do ‘seu’ Evilásio, da filhona aqui.

Mesmo quando garotinha, eu ficava cismada com as escolhas da escola no quesito lembrancinhas. Meias? De novo? Como meu pai, eu me surpreendia todo ano com esta escolha. Pô, achava a maior falta de criatividade presenteá-lo com (mais) um par de meias. Seria a minha mãe realmente cúmplice dessa tramóia escolar?? Não lembro de vê-la entregar par de meias algum à professorinha... Será que os homens não gostam de outra coisa? Será que não apreciariam receber algo diferente? – eu me questionava. Não era possível que um pai realmente amasse tanto receber (mais) um par de meias e, ainda assim, externassem aquela alegria e surpresa que sempre nos convencia ser de muita satisfação.

E era realmente... satisfação.

Não eram as meias de marcas desconhecidas ou – quando a escola raramente variava – o pente Flamengo ou o lenço Presidente que deixavam os nossos pais tão felizes. Era o carinho, somado à inocência dos seus filhos aos lhes presentearem com algo tão simples. Qualquer algo. Fossem meias, lenços, pedras pintadas ou mãozinhas coreografando um pôster. O que os faziam de fato felizes era ser pai e ver o brilho nos olhinhos dos filhos ao homenagear o cara mais importante da vida deles.

"Ah, meu filho... não precisava!" E não precisava mesmo, acredite. "Me basta o seu carinho, o seu amor e a sua presença...!" É verdade. É a mais pura verdade. A gente não acredita quando somos filhos. Mas quando nos tornamos pais, (re) descobrimos que os melhores presentes de um filho são os reais sentimentos demonstrados por eles. O orgulho de receber de volta os valores e o amor passados desde o nascimento.

Mas muitos anos me separam daquelas meias de marcas desconhecidas. Os presentes evoluíram e o meu ‘velho’ mais ainda como pai. Ainda lembro do dia em que ele chegou e me disse com a voz levemente embargada: "Minha filha, a partir de hoje eu serei o seu pai e a sua mãe..." e me abraçou chorando. Foi a maneira que encontrou de me informar da partida de sua companheira de quatro décadas, há quase 17 anos. E até hoje, com saudáveis 82 anos de idade, dá conta dessa promessa! Mais presente do que nunca na vida dos três filhos. Como pai, superou as próprias expectativas. Está sempre repetindo para quem quer que seja que os filhos são o seu esteio. Mal sabe que ELE é o nosso esteio. Diante dele, ainda nos sentimos adolescentes dependentes da segurança e do apoio paterno. Acredito que ele ainda nos veja, literalmente, como crianças e não como 'coroas' na casa dos quarenta e cinqüenta e poucos anos. O 'velho' ainda segura as nossas mãos e nos recomenda atenção ao atravessar as ruas, fechar as portas e janelas ao se deitar e evitar estranhos que nos abordam. E toda noite, reza para a Nossa Senhora de Aparecida pelos pimpolhos das meias de sua eterna e extensa coleção.

Feliz Dia dos Pais a todos!

Feliz Dia dos Pais, pai!

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau... LINDO texto Iedinha!!
Vc conseguiu me emocionar!!
Bjo