sábado, 19 de julho de 2008

Nem só de bunda vive o homem...

por Charles Nascimento

O redator-que-vos-fala é o único representante do sexo masculino a colaborar com esse blog. Por ser minoria, tem que tomar certas precauções ao abordar questões de gênero nesse espaço. Mesmo correndo o risco da execração pública, porém, tomou coragem para escrever sobre um tema bastante em voga em tempos modernos: a importância da bunda no cotidiano brasileiro.

Este texto traz uma opinião que talvez desperte a ira das duas colegas e também idealizadoras do blog - Ana Maria Chagas e Ieda Oliveira. Mas o redator-que-vos-fala resolveu publicá-lo no intuito de ajudar a derrubar um velho mito: a bunda da mulher brasileira não é mais bonita (ou melhor) do que as similares internacionais. É simplesmente mais exibida. Está mais à mostra do público.

O redator-que-vos-fala se deu o trabalho de folhear algumas publicações nacionais (jornais e revistas) e assistiu a programas populares de TV. Embora sem base científica, a breve pesquisa revelou um espaço considerável reservado a matérias direta ou indiretamente ligadas ao tema: Mulher Moranguinho, Mulher Jaca, Mulher Melão, Mulher Melancia, a ex-BBB e por aí vai.... Com auxílio da internet, comparou rapidamente com a cobertura feita por publicações similares de outros países - tablóides sensacionalistas da Inglaterra e dos Estados Unidos, por exemplo.

(Antes de prosseguir com essa explanação, o redator-que-vos-fala abre um parêntese para esclarecer que nada tem contra essa verdadeira salada de fruta de glúteos – ele até gosta. Não é boiola, antes que digam! Mas, a verdade o tributo nacional às nádegas não tem precedentes na história mundial.)

Durante o almoço, na última sexta-feira, Ana Maria divulgou uma informação interessante: uma das principais ruas do Centro do Rio de Janeiro literalmente parou porque uma dessas celebridades instantâneas da vez estava ... acreditem!Fazendo o cabelo em um salão da região. Marmanjos, feito feras no cio, fotografavam e procuraram uma pequena fresta na porta para ver detalhes do corpo escultural – devidamente siliconado, evidente! Mas como não existe no mundo nada tão ruim que não possa piorar, o redator-que-vos-fala deparou com a notícia em dois dos mais respeitados matutinos cariocas.

O saudoso Sargentelli (1924 a 2002) foi um dos primeiros a levar para os veículos de comunicação os ‘atributos físicos’ da mulher brasileira. E abordava a questão da sensualidade com extrema sutileza, se comparado com as estratégias de apelo sexual hoje em prática. Radialista e apresentador de televisão, no período da ditadura militar foi proibido pela censura de apresentar seus polêmicos programas de entrevistas (O preto no branco e Advogado do Diabo). A partir daí mergulhou de cabeça universo do samba, em 1969, época em que abriu sua primeira casa de espetáculos.

O redator-que-vos-fala lembra de uma das últimas entrevistas do "mulatólogo", como ele próprio se autodefinia. Na ocasião, Sargentelli já demonstrava certa dose de cansaço com relação ao festival de bobagem que assolam o país.

Sobre um antigo desejo de resgatar a história da música brasileira, ele respondeu ao entrevistador passou por um árduo trabalho para captar patrocínio. Depois, levou a proposta a um grande jornal. Superada outra via-crúcis, teve que modelar a questão logística (distribuição, modelagem dos fascículos etc). Por fim, chegou o momento de discutir o projeto editorial propriamente dito.

Sargentelli agendou reunião com toda a staff da redação e explicou detalhe por detalhe, exaustivamente. Manifestou ainda o interesse de começar a série de reportagem pela obra de Noel Rosa, no que a jovem e simpática jornalista incumbida da reportagem respondeu de bate pronto: “Ótima idéia, onde é que ele mora?”

O desfecho?
Ele decidiu jogar uma pá de cal sobre a idéia.
Agora, se estiver assistindo a esse festival de bundas e peitos siliconados, deve estar se contorcendo no túmulo. Sua ousadia era fichinha.

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