sexta-feira, 25 de julho de 2008

Discutindo a relação...

por Charles Nascimento

O redator-que-vos-fala é filho único, foi o primeiro neto, primeiro sobrinho, primeiro afilhado, primeiro quase tudo. Tinha boas chances de virar um belíssimo boiolão, segundo crença do imaginário popular. Contrariando sua vocação natural, cresceu heterossexual – um tanto por opção, outro tanto por influência dos mais velhos.

Com o tempo, porém, descobriu que a convivência com o sexo oposto nem sempre é tarefa das mais fáceis. O casamento, na avaliação do redator-que-vos-fala, é resultado da obsessiva compunção do ser humano em contrariar as forças divinas. Se fossemos criados para viver aos pares, seríamos concebidos de dois em dois. E pronto! Assim como não temos asas – portanto não deveríamos nos atrever a voar – não são prudentes as relações estáveis com o sexo oposto. Simples assim!

O problema na esmagadora maioria das vezes deriva do DNA feminino, devido à uma estranha tendência de complicar a vida combinada com uma leve pitada de complexo de inferioridade. Caros amigos do sexo masculino, que insistem ritos do matrimônio, vejam se reconhecem os diálogos abaixo:

Em casa

– Você acha que eu estou bem com essa roupa?
– Está ótima!
– Fala a verdade?
– Estou falando...
– Vou trocar?
– Por que?
– Está muito apertada.
– Então por que você vestiu?
– Por que cabia perfeitamente em mim. Não sei o que ouve? Você acha que eu engordei?
– Não sei, talvez.
– Pode ir sozinho. Não vou mais a porcaria de festa nenhuma?
– Mas o que ouve?
– Você disse que eu estou gorda. Está ironizando.
– Mas eu não disse nada disso...
– Não disse, mas pensou. É muito pior. Você quer que eu vá só para me humilhar na frente daquelas suas amigas galinhas. Fica lá com as suas queridinhas magrinhas. Cuidado porque você vai me trocar elas te colocam um par de chifres na primeira oportunidade.
– Tudo bem! Se você não quer ir, então não vamos mais.
– Por que você não quer que eu vá? Tem alguma coisa lá que eu não possa ver? Para mim chega! Me leva para casa da minha mãe.

No carro

– Em que você está pensando?
– Em nada.
– O que está acontecendo?
– Já disse: nada.
– Acho melhor a gente dar um tempo.
– Tudo bem.
– Eu sabia. Você quer terminar comigo. Já tem outra. Quem é a vagabunda?
– Não disse nada. Foi você que pediu um tempo.
– Pára de correr com essa merda desse carro. Ficou nervoso porque eu descobri suas sacanagens?
– Que sacanagens? Estou exatamente na mesma velocidade. Não estou correndo.
– Por isso que você queria que eu fosse para casa da minha mãe, para ficar na putaria? Vou voltar para a minha casa. Não te darei esse gostinho.

No quarto

– Você já está dormindo?
– Estava. São 3 horas da manhã.
– A gente precisa conversar sério.
– Pode ser de manhã?
– Não!
– Temos que discutir a nossa relação. Você hoje me chamou de gorda. Não quis me levar para festa. Tem vergonha de mim. Me despachou para casa da minha mãe como se eu fosse um objeto só para ficar com aquelas vagabundas. Você acha que está certo? Por que não me contou que tem outra? Pode falar a verdade, prefiro ouvir da sua boca.

Mas lembrem-se: esta obra é um trabalho de pura ficção. Qualquer semelhança com o dia-a-dia é mera coincidência.

7 comentários:

Rogério Macedo disse...

"Mera coincidência" rsrs, muito 10, vocês estão de parabéns, está lindo!!!
São poucos os blogs com tamanho bom gosto!
E Ieda, você ainda me deve aquele texto!
Um grande abraço para vocês e novamente parabéns!
Aguardo a visita de vocês no meu blog (não é muito a praia de vocês, mas vão achar algumas coisas interessantes por lá).

Cabral disse...

Como diria um amigo meu, que faz pouca leitura mas tem um comentário que bem se aplica a este blog: maneeeeeeiro!!!!

Tem muita coisa na web e, infelizmente, bom conteúdo é raro.

Parabéns pelo belo trabalho.

Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Tá muito bom esse blog. Parabéns Charles, Ieda e Ana Maria. Já acrescentei nos favoritos. Ô redator-que-vos-fala e símbolo sexual da Vila da Penha! Conta algumas histórias do "povo pobre" e daquele "mão aberta" que nasceu em 12/11. Tu é bom nisso, malandro. Grande abraço! Zé Sergio

Renata Telles disse...

hahahahaha adorei! Nessas histórias não tem nada de ficção! Passei por uma dessas há pouco tempo... Mas please, não exagera ne!!

Vou vir aqui todos os dias! beijo, Renata Telles!

Marcelo disse...

Boa noite !
belo texto..
Só discordo que a sexualidade seja uma questão e opção.
Abraços

Anônimo disse...

Parabéns Charles, Iedinha e Ana Maria, o conteúdo desse blog é 10!Adorei!!! Ah, só pra deixar registrado: blog de bom gosto a gente sempre retorna...

bjos!