terça-feira, 25 de maio de 2010

De mãe para mãe (uma resposta para Anna)


Por Ana Maria Chagas

Tive que refletir muito para responder a uma das leitoras, porque eu entendo muito bem os dois lados da história que ela conta em seu mail.
Diz respeito ao texto “Abram seus horizontes”
(http://cafezinhocomletras.blogspot.com/2010/05/abram-seus-horizontes.html) que foquei na vida profissional, mas para esta leitora, significou um recado para a mãe que está passando pela “Síndrome do Ninho Vazio”.
Mulher é bicho complicado e amadurecer não é nada fácil.
Não estou nem falando de rugas, cabelos brancos ou menopausa. Estou falando sobre a época das perdas, que todas nós alcançamos. Somos criadas por uma sociedade muito castradora onde mulher sempre foi sinônimo de maternidade.
Não sei se algo mudou nesta nova geração, mas sempre nos ensinaram que mulher é mãe em tempo integral: mãe dos filhos, das noras/genros, do marido e dos próprios pais quando envelhecem. Isso vira até uma ação semi-inconsciente, porque não queremos falhar no papel mais importante da mulher para a sociedade.
As próprias mulheres do círculo familiar, as amigas mais próximas ou colegas de trabalho vivem cobrando umas das outras: se a casa está em ordem, se os filhos passaram de ano, se o marido está bem alimentado e vestido, se sabe economizar nas compras, se sabemos cuidar de doentes, se telefonamos constantemente para nossos pais idosos, se permanecemos lindas, magras e maravilhosamente jovens e de bom humor, etc.
Temos padrões a seguir, desenhados pela TV, por revistas femininas, por tantos mais expectadores imaginários.
Sem nem dar conta disso, acabamos assumindo essa postura de dedicação e amor incondicional com a família que muitas vezes nos faz esquecer quem somos e do que gostamos para ceder aos desejos dos que amamos.
Tenta fazer o contrário e vem a culpa! Ai... a culpa que nos infligimos... Antes mesmo que os outros nos censurem, nós somos nossas maiores acusadoras.
Castramos nossos desejos e inserimos culpa quando cuidamos só de nós mesmas.
Vivemos o que é melhor para o outro. Vivemos até mesmo a vida do outro.
Então, com o tempo, vem chegando a maturidade e com ela a estação das perdas:
- Nossos pais, envelhecidos, se vão...
- Vai-se o marido, seja por morte ou separação (que para muitas é a morte!).
- E por fim, os filhos, que crescem, se casam, mudam de cidade por causa da profissão, ou simplesmente mudam para morar sozinhos.
E aí? O que a gente faz da nossa vida se ninguém mais precisa de nós? De quem vamos cuidar?
Aí que está a questão do quanto podemos atrapalhar a vida dos filhos na época em que eles estão prontos para seguir suas próprias vidas. Pode parecer insensatez da minha parte, mas tenho para mim que as mães que grudam nos filhos impedindo seu crescimento e liberdade de errar e seguirem seus próprios caminhos, camuflam como dedicação materna o que muitas vezes não passa de puro e simples egoísmo.
Pergunto agora para as mães de plantão: quando foi a última vez que pararam para cuidar de vocês mesmas?
Durante muito tempo eu vivia me perguntando qual o limite entre ser egoísta e estar cuidando da auto-estima. No que trata sobre maternidade, cheguei à conclusão que durante toda a minha vida consegui (só Deus sabe como) equilibrar os meus desejos e ambições com os dos meus familiares, usando duas coisas: bom senso e muito amor. Se for pesar na balança, sempre os coloquei em primeiro lugar, mas eu sempre abri espaço na agenda de um tempo só pra mim. Nem que tivesse que ficar sem dormir para isso...
Ou seja, uma equilibradora de pratos. É assim que se concilia maternidade com ser simplesmente mulher.
Parece óbvio, mas muita gente desconhece que, nos relacionamentos, somos egoístas quando decidimos fazer algo só para nós em detrimento do que os outros precisam como, por exemplo, gastar horrores com supérfluos enquanto seus filhos precisam de dentista ou uma boa escola, etc. Ou deixar sempre em segundo plano as necessidades dos que nos amam. Ou ainda, de modo mais grave, e que vem acontecendo muito ultimamente nos lares, deixar de ouvir os problemas dos filhos para assistir Big Brother (sic).
Que me perdoem os amantes dos reality shows, mas será que os problemas imbecis de 5 ou 6 “atores”, criados por eles mesmos, muitas vezes inventados para prender a atenção dos teleguiados, são mais importantes do que ouvir uma filha contar sobre sua primeira briga com o namorado ou consolar o choro de um bebê sonolento?
Mas voltando ao assunto que originou este texto, a única resposta que posso dar para a jovem leitora é que é possível ensinar uma mulher a ser mãe, mas fazer uma mãe compreender que sua missão terminou e que ela já pode dedicar mais tempo a si mesma, aí... é outra história!
Só posso deixar aqui, alguns questionamentos para reflexão:
- Onde foi parar a mulher que sua mãe foi?
- Porque ela acha que não será mais esta mulher? O que a impede?
- Quando ela reclamava que nunca tinha tempo para si mesma, o que ela gostaria de ter feito se tivesse tempo?
- Por que não fazer o que gostaria de ter feito, agora que ela tem tempo?
E boa sorte pra ela. Para todas nós.

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